Passeando nas minhas reflexões, ocasionalmente, me deparo com pensamentos que considero radicais demais. É um feeling que bate, como se estivesse caminhando por uma paisagem apocalíptica de montanhas rochosas iluminadas por um céu negro azulado e trovejante; e houvesse espiado entre as frestas de um portão lacrado que emanava uma aura vermelha. Um alerta veloz como é próprio das operações dos pensamentos. "Isso não é pra mim". Eu costumo me afastar do portão e continuar caminhando com o pensamento que estava desenvolvendo, mas hoje uma voz interna me disse pra esperar. Ela falou que era uma posição antifilosófica, injusta, negar um pensamento só porque considerava ele radical demais.
Alguns pensamentos podem ser negados. Os que causam medo, os que são confusos ou dolorosos demais. O feeling costuma ser assertivo, nem sempre é bom mexer no vespeiro. Mas, algumas vezes pode ser um alívio, como tenho descoberto nesses meses que passaram. Mexer e falar nos faz descobrir que o vespeiro era uma colmeia de abelhas sem ferrão. E algumas outras vezes a mente para. Não necessariamente por defesa (não acho que seja), nem por exaustão. Talvez seja um problema de BIOS* que faz com que a visão panorâmica se torne leitosa como uma cegueira branca.
A voz que surgiu hoje foi motivada por uma sequência de acontecimentos pontuais para os quais atentei nos últimos meses. Quando estava no fluxo da fala e não me interrompia pra consultar meus pensamentos e conferir a veracidade ou, ao menos, a maior precisão possível a informação que dava. Isso me incomodou a medida em que se repetia. É antiético, na maior parte do tempo, contar um fato sem o esforço de memória. Era como acessar o cache e não a lembrança.
Então essa voz foi crescendo em mim. Ela dizia que eu tinha que estar atenta ao que falo, mais que isso, que eu deveria ser honesta e precisa nas minhas narrativas. E esse senso de falar de forma correta me leva a pensar de forma correta. Pra ser honesta eu preciso ver os vários lados de um fato, ao menos os que surgem pra mim. Não posso ignorar um pensamento incômodo porque acho que ele vai desestabilizar minha ideia. Preciso deixar que ele venha, se apresente. Mesmo que eu não possa combatê-lo ainda, preciso tomar conhecimento de sua existência.
Então retrocedi e abri o cadeado do portão, deixei que o pensamento viesse e sua luz vermelha fundiu-se com o pensamento azul que eu carregava, escorrendo roxo pela minha mente, saltando pela minha boca, se desenvolvendo nas palavras. Guardado, modificado, pronto pra uma nova aparição nas conversas comigo ou com alguém, sempre que necessário; e não mais preso, nem perdido no limbo dos pensamentos ignorados.
*Bicho Ignorante Operando o Sistema
09/09/21
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUma espécie de epifania.
ResponderExcluirSe o exposto no texto for colocado em prática e deixar a mente trabalhar ideias antes rejeitadas sem a busca do entendimento, creio, o resultado será um câmbio substancial em sua personalidade. Para ser sincero, essa é uma possibilidade. A pergunta que se pode fazer em relação a isso é: Você está disposta?