Queria acender uma fogueira no seu peito pra que as suas palavras não arrepiassem minhas costas, mas mal consigo manter acesa a minha própria chama. Não sei se mantenho do jeito certo, como fazer ser natural, com ser de verdade? E se meu fogo apagar e eu afundar outra vez na água gelada? Tenho tanto medo disso.
Naquela noite em que eu estava no chão sentindo o cheiro daquela vida toda que eu tinha, e que ainda passa às vezes, eu pedi sua ajuda e você deixou minhas mãos dormentes. De medo. Porque seu papo de solidão é tão aterrador pra mim.
Eu tenho problemas com o sol porque ele me lembra a sua casa e a sua cidade. Mas não tem tanto a ver com você. Porque eu fico gripada encostada na parede quente do seu quarto. Porque a sua vida, e a vida aqui, é cheia desse sol obrigatório, sol violento, dolorido, perigoso e de despedida. O sol da tarde me lembra a solidão.
Mas o sol não tem culpa.
Quando você me elogia eu me sinto fraca, tutelada. Parece que você se esforça pra ver o que tem de bom em mim porque se acha muito melhor. Parece que você acha que eu preciso ser consolada pela minha vida fraca, ou que eu preciso de reconhecimento. Porque o seu reconhecimento nunca parece de verdade? Porque eu não consigo acreditar na sua admiração?
Mesmo tendo pouco de você ainda é melhor que não ter nada, e o meu normal nunca foi suficiente, mas você não percebia então eu achava que era. E o seu esforço sempre parecia em vão, eu sempre pedi mais, e a gente se machucava junto. Eu realmente acreditei que você sentia algo parecido comigo mas era muito pior.
Quando eu falo com você eu nunca sei o que esperar e isso vai me machucando devagarinho mas não parece arranhar a superfície de mim porque eu me acostumei. Diferente de tudo que a gente tinha e se arranhava tão fácil.
Você se esforça muito pra fazer as pazes comigo e com o seu passado. E eu tenho tentado fazer as pazes com o sol e com o meu presente. Ele parecia mais ameno na minha memória. Ele parecia melhor quando eu sentia o cheiro da minha casa e não da sua. Das minhas. Das suas. As suas casas são tão sozinhas pra mim...
O seu melhor talvez não encaixe em mim. Essa frase na verdade é sua.
Dependendo de como eu viro o olho eu sinto uma e outra coisa, mas já decidi que vou ficar bem comigo pelo menos enquanto eu posso, pelo menos enquanto eu tenho tanta coisa pra fazer e sei onde achar um sentimento ou outro que eu preciso. E vou tentar contigo tendo um monte das coisas que a gente queria ter, e deixando de ter outro monte, algumas que a gente nem sabia e nem sabe ainda.
Tem uma música que você gosta e eu não, que diz que "você é como o sol, ilumina meu dia mas queima a minha pele". E se eu fui isso pra você, porque você continuou? E eu disse que meu texto ia terminar feliz mas não consigo deixar de ficar triste pensando outra vez na solidão que acho que tu sente, e que parece contagiosa, só de falar dela eu sinto um pouquinho. Queria ser mais, queria poder consertar nós dois e não posso nem comigo.
Mas vai lá, vou terminar bem. Vou terminar dizendo que pelo menos agora as coisas não são como minha cabeça viciada quer projetar, como um caos. Elas simplesmente são como são, e eu não compreendo tão bem. Mas a gente ainda consegue ter o melhor um do outro. Ou... quase isso. Terminar dizendo que me consola a sua presença.
07/12/22 às 20h00
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