Como assistir um filme e ficar imerso, usar o blog também proporciona aquela ideia que, em algum canto, eu já comentei de se sentir uma adolescente no mínimo 15 anos mais jovem, isso não quer dizer que você rejuvenesce mas que por um momento a sua realidade é outra. Mais leve, e as preocupações são mais comuns. Claro que é uma impressão passageira, ela rapidamente abre lugar para o assunto que você vai escrever e te obriga a virar suas belas órbitas para sua vida.
Esse é um post livre, apesar de eu ter mil e uma anotações de assuntos pra tentar desenrolar. Todos os posts começam meio livres na real, hehe, outros começam antes de eu sequer pensar em escrever, eles se desenrolam sozinhos na minha cabeça. Agora por exemplo, estou querendo digitar duas coisas ao mesmo tempo e isso é um pouco impossível, então vamos por partes, sem respirar, pra não perder o fôlego criativo.
Primeiro, eu tô ouvindo minha playlist, a coronalist, e resolvi marcar as músicas que estiverem tocando enquanto escrevo, vai que elas influenciam algo na escrita? [phonesex - yung lixo]
Então, falando sobre os posts que se desenrolam sozinhos, é como uma conversa [sambinha - o grilo] imaginária. Você está aqui de boa tomando banho e de repente começa a criar uma situação na sua cabeça, ou um post, ou uma conversa, e tal hora ele saiu andando sozinho, e ai de você se não conseguir transferir tudo pra um post real depois.
Bem, hoje aconteceu uma situação engraçada. Eu fui tomar banho e estava pensando como seria entrar para o bbb, que no momento está sendo bem comentado. Então estava pensando em como seriam as minhas conversas com os outros participantes, creio que nada fluidas, e quando vi estava de frente para o espelho do quarto conversando com meu reflexo. [eye of the tiger - survivor] Eu já tinha saído do banho, pedido para minha mãe sair do quarto enquanto eu me trocava, e ainda estava com a cabeça na conversa inacabada no sofá imaginário com os participantes imaginários. Eu me olhava conversando e era um prazer mover a boca e fazer gestos embora não pudesse emitir som.
A vida tem dessas, a minha vida tem bastante, como já disse anteriormente sou uma apreciadora das janelas dos ônibus, alguns anos atrás era mais ainda. E quando você coloca um fone e olha a pista, os postes e a vegetação é quase inevitável não se perder. Belchior disse que viver é melhor que sonhar. É uma conclusão inevitável quando se sonha tanto acordada. Por outro lado, sonhar é muito bom também, e não traz os riscos e o processo lento de realização. [hips don't lie - shakira]
Falando nisso, minha playlist é resultado da realização de uma dessas ideiazinhas que queremos mas nunca fazemos. Como costurar um urso ou pintar uma blusa. Era juntar num lugar só todas as recomendações de música que eu recebesse ou quisesse. E nessa quarentena eu comecei a abrir a pasta de prints e adicionar tudo na coronalist. Na realidade eu já estou enjoando dela, mais rápido que das demais, porque o processo de construção dela não foi tão natural. Mas tenho descoberto músicas novas que me agradam, e isso é bom. [here with me - the killers]
Outro dia, alguns anos atrás, vi no facebook um post sobre pessoas que imaginam demais, e que isso pode começar a ser catalogado como doença. Não que eu tenha chegado em um ponto desses mas é incrível esse poder que nossa mente tem. Claro que não para aí, tem as pessoas que conseguem andar em brasas e curvar barras de aço com a garganta usando sua concentração. Eu não duvido.
Bom, eu acredito em muita coisa inacreditável se você for ver. Uma noite de 2016 ou 17 fui perguntar aos meus pais onde estava meu irmão, pois já não o via a bastante tempo. Eles estavam sentados no quintal, nessa época um quintal médio com algumas plantas, e eles embaixo do cajueiro conversando calmamente. Era uma noite agradável, ainda lembro do cheiro da casa que era impregnada de caju, e de como eu subia naquele cajueiro na virada do ano pra olhar o céu. De como dava pra ver ainda a lua com o sol já nascido lá fora dos muros. Isso é outra história. [the times they are a-changin' - fort nowhere] Então eu perguntei pelo meu irmão e eles me disseram, com toda a casualidade de quem toma vento no seu quintal numa noite quente nordestina, que ele tinha ido voar. Porque ele aprendeu a voar e tinha saído. Eu olhei pra cima um pouco incrédula mas feliz. Ora, veja você, leitor, que voar sempre foi meu sonho. E nesse período minhas imaginações estavam a todo vapor, era inevitável que eu me agarrasse aquela ponta de esperança. Foi um momento realmente belo pois eu não sentia inveja, apenas um sentimento bom por meu irmão ter alcançado algo que eu sempre quis. E ainda estava caindo a ficha pra mim.
Não lembro se logo depois ou muito depois meus pais me disseram que era mentira. Eu aceitei bem, aliás, eles riam de como eu poderia ter acreditado, mas eu acho que não faz mal pensar que coisas maravilhosas assim possam acontecer, deixa tudo mais interessante. [cradles - sub urban]
O que eu mais gostava de fazer nessa época era me balançar na rede ouvindo música. Porque eu podia cantar, colocava um karaokê vez ou outra, e ao mesmo tempo imaginar que voava de inúmeras formas diferentes, pra lugares, aventuras. Aprendi a balançar sem encostar os pés no chão, só com o peso do corpo, e flutuava pelo céu do mundo inteiro.
Flutuava com a rede amarrada na sala, na área, entre dois coqueiros, na varanda da minha avó. Esse último era o melhor lugar pra balançar, mas enjoava fácil, saturava. Talvez por não ser meus lugares de costume. Vou contar sobre as coisas que eu pensava, sobre os lugares que eu visitava.
Na sala [o errado que deu certo - cbjr] eu ouvia justamente charlie brown, engenheiros do hawaii, titãs, legião urbana, red hot e mais uma penca de coisas. Eu gostava de balançar só pelo prazer do vento e da altura. Pensava certas vezes, brincando com meus irmãos, que estávamos em um navio pirata ou em uma nave espacial. Eles cuidavam do combate e eu pilotava enquanto dava as situações.
Quando sozinha pensava em sair voando, via os punhos se soltando com minha força de vontade [around the world - rhcp] e imaginava como poderia sair flutuando pela porta, com os punhos da rede dobrados como um arabesco, e ia vendo a cidade, inicialmente próxima e cada vez mais longe, mais frio. Porém a solidão não me sufocava, o frio na barriga pelo medo do desconhecido não era suficientemente forte pra nublar a minha felicidade em contemplar as casinhas e as pessoas, e o raro movimento da cidade de um lugar privilegiado. Então eu resolvia o que fazer, voava para o japão, pousava no centro de Tóquio cheio de neons, e subia de novo. Não passava muito tempo em lugar nenhum como no céu. Passava na casa das minhas amigas pra que subissem comigo, chamava meus irmãos. Deixava que experimentassem cruzar as cidades.
Sempre tive medo da vastidão [antes do fim - belchior], não olho o mar nem os pólos no google maps, não ficava fora de casa nem me afastava muito quando tentei jogar minecraft, parei de jogar esconde-esconde pelo medo de ser descoberta. [in too deep - genesis] O espaço não me assusta mas o oceano sim. Porém nas minhas aventuras nunca tinha medo do mar, ele sequer aparecia enquanto eu cruzava o planeta-água.
Lembro de uma tarde em que sentei pra balançar nos coqueiros e me perdi de forma tão profunda nessa viagem que quando dei por mim estava chorando ao som de in my remains, não lembro quais pensamentos me acometiam pra causar emoção tão forte.
Nas tardes de sol na área pensava nos parques de diversão, nas barcas e rodas gigantes, pensava na vida e também em como seria se um dia todas as pessoas que eu conheci na vida (bom, certas pessoas, não todas) ficassem presas comigo em uma sala, ou em uma floresta, e tivessem que lutar para escapar. E eu, de repente, percebia que a única coisa em comum entre todas essas pessoas era eu mesmo e começava a guiar a nossa aventura.
Inclusive, não apenas as redes estavam restritas minhas aventuras por florestas e mundos mágicos, jogos onde eu me tornava uma guerreira elfa ou bruxa. Esses apareciam principalmente durante meus banhos. Criava narrativas incríveis. Talvez por isso fiquei tão encantada quando assisti sword art online. [déjà-vu frenesi - letrux].
Na varanda da minha avó eu balançava ao som da lembrança da música que abre o filme O serviço de entregas da Kiki, o primeiro trecho é "meu coração quer voar, sinto o vento me acariciar", e a cena é absurdamente linda. Os filmes do hayao me fazem pensar que não sou só eu que penso essas coisas, o catbus é um exemplo que me surpreende do quanto ele conseguiu condensar uma emoção tão onírica num único personagem. Uma porrada de traços que já haviam me ocorrido: andar no fio dos postes, a velocidade, a luz amarela aconchegante, a quebra de leis simples, [r u mine? - arctic monkeys], a malícia no olhar do gato e o aconchego... Tudo junto, tudo ali, explicitado. Além disso, o noitibus de harry potter segue lógica parecida. Talvez sejam traços que quase todo mundo sente, tem a ver com infância e com magia, e por isso é tão incrível de pensar e de ver.
E assim eu consolidei meu amor por vôos, balanços, imaginações.
Hoje em dia meus pensamentos de voô mudaram um pouco, as implicações da lógica começam a pesar, outro dia passei quase uma hora olhando pro nada e pensando nessa situação que seria voar de forma realista. A realidade é maravilhosa, mas [oração ao tempo - caetano veloso] pra isso não me serve. Quando puder pulo de pára-quedas, salto de asa delta, vôo de balão ou salto de bungee jumping, mas nada vai se comparar ao que seria de fato, voar por si. Outra diferença essencial das minhas imaginações de hoje, já não quero uma rede. Quero soltar meu corpo no ar, invisível. Atravessar a janela, a porta, ganhar altura. Sentir o sol queimar minha pele e o vento me arrepiar. Seguir um ônibus até uma cidade próxima, voar com o celular na mão pra não me perder. Talvez uma mochila nas costas. Talvez sentar no teto dos transportes públicos e olhar o trânsito enquanto como um biscoito. Ver as serras. [onde anda você - toquinho e vinícius de moraes] Me localizar num mundo de casinhas, e pousar levemente no início da noite na janela do menino que eu gosto.
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