Estava meio mal e vim fazer algo que sempre me traz frescor: escrever. Tenho mapeado meus hábitos, como já mencionei em algum post antigo, e parei de anotar apenas duas palavras que sejam os destaques do meu dia, como fazia antes, e agora escrevo um pequeno texto. Quase um diário, e já mantenho a mais de um mês, escrevo todos os dias.
Como estamos de quarentena é fácil ver o que destoa do habitual, eu anoto isso e também como vai minha saúde, meu relacionamento, e minhas decepções... comigo. E me dá vontade de divagar, de fazer um textão por noite. Considerando que parei de ler e nem com reza de padre velho eu consigo retomar meu ritmo, parei pra pensar agora que seria até saudável deixar esse texto rolar. Mas é que... Não é o intuito. O intuito é resumir o que foi importante pra que eu possa consultar depois. Mas... Pensando bem quantas vezes eu vou poder consultar, né? Acho que fazer um diário de verdade seria melhor.
Bom, eu vim aqui pensando em escrever algo e tal hora fico divagando, mas meu ponto era que essa escrita diária, pela limitação que eu impus, não sacia o desejo de expressão da minha alma, então não é tão ruim como escrever um artigo, mas não é tão bom como, por exemplo, escrever aqui.
Mas hoje eu vim falar da minha infância. Acho que é legal recordar desses ganchos que fazem parte da gente e simplesmente se perdem com o tempo, ficam as impressões mas não fica a lembrança ativa sobre elas.
Quando eu era mais nova, entre quatro e seis anos, eu ganhei algumas revistas. Parece o mesmo dia, quando eu penso, mas sei que foram dias diferentes. Primeiro eu ganhei O burrico de Tróia e o Galodiador, na foto ao lado. Embora até hoje não entenda bem essa história da guerra de troia, eu nunca me esqueci do nome e de pequenas impressões dessa revista. Creio que foi a primeira revista da Turma da Mônica que ganhei.Meus pais, me disseram depois, evitavam comprar dela porque achavam que podia ser uma má influência (eu tenho certeza que minhas crises de raiva na infância não tiveram nada a ver com minhas leituras), e por isso a primeira que li foi do Chico Bento, o que é engraçado, se for considerar que o Maurício precisou botar propaganda nas revistinhas antigas pra que as crianças se interessassem por ele. Deve ser preconceito com o fato de ele ser caipira, pois as historinhas nada devem as do resto da turma, e geralmente tem as melhores mensagens. Como esquecer a história do pé de banana nanica? Ou a belíssima graphics Arvorada? Além do incônico Pavor Espaciar. Até o shitpost do chico bento é o melhor (evite, se for sensível).
Me lembro também de como gostava de ouvir a paródia de trillher, na época em que via as apresentações da turma no youtube. Se você gosta de turma da mônica e ainda não viu a versão deles de romeu e julieta, não sabe o quanto de estranheza está perdendo. Eu e Turma da Mônica... É um lance que se estende desde aquele tempo, e até hoje eu me empolgo. É difícil resistir ao trabalho belíssimo, especialmente os roteiros do Emerson. A supersaga do fim do mundo definitivamente merece ser relida e ter um post só pra si aqui no blog. E porque estou dizendo isso? Porque o post não é sobre a minha história com mônica, mas sobre as minhas leituras da época.
Também ganhei uma revistinha do Jarbas, eram quadrinhos e, embora eu mal me lembre das histórias, lembro do quanto me divertida vendo aquela revista. Tinha até um joguinho de encontrar o Jarbas, tipo o do Wally.Eu também ganhava revistas de princesas, dessas com joguinhos de colorir e completar. Se perderam no tempo mas a impressão permanece. Creio que eram do mesmo estilo de desenho que essa da imagem (abaixo), mas não era exatamente essa. Era mágico. (Acho que já ganhei uma que vinha com uma coroa).
Quando penso nessas três revistas me vem de imediato o céu. O céu noturno, azul escuro. O mundo era gigante e eu protegida. Lembro da janela de grades, embora não saiba dizer a cor ou o formato. Da rede, do vento e céu... Lembro da minha mãe balançando comigo e cantando. E também do trabalho do meu pai, o cheiro de café, o azul das mesas e o ar condicionado.
Das memórias que guardo da infância, essa época me traz algumas pacificamente doces e outras nem tanto. São algumas das minhas primeiras memórias. Será que o processo de alfabetização me ajudou a memorizar as coisas, ou será só a capacidade da mente de recordar?Quando penso me lembro também da manhã. As lembranças se confundem, como quando se cantarola uma música e num ponto oportuno se emenda outra sem querer. É isso, a memória de 2006 na casa nova se confunde com a casa nova de 2009 e o cheiro de orégano. E o isopor e a branquidão de coisa nova. Acho que eu era muito criança pra lembrar tão bem da casa nova de 2006, ou 2004, ou que ano seja, a data não importa. O que importa é a época.
Lembro de Engenheiros do Hawaii tocando, me perdoem se estiver sendo repetitiva, eu realmente não decoro quais memórias já falei e quais não, e dessas memórias profundas e importantes a gente acaba tendo de falar em muitas ocasiões. Tocava "era um garoto..." e eu lembro de um céu que não existe, com imagens que não tem forma certa, lembro de cores de por do sol e algum tipo de estilo, urbano, industrial, uma ideia colorida. Um sentimento que está enfraquecendo com o tempo...
Lembro da escola, de tantos momentos legais, e aí não posso me ater. Certas partes daquela cidade, em especial a escola, merecem post próprio. Posso apenas pincelar: Tinha a minha casa, tinha o supermercado onde comprava bate gute e leite moça de saquinho. Tinha a praça da Daiane, e os biscoitos passatempo. Os vestidos de serena da minha mãe, a vó da Daiane costurava vestidos iguais os da menina da novela, azuis e comportados. Lembro das carteiras de cigarro que me assustavam jogadas a noite no chão da praça. E de como eu descobria o mundo com os meus olhos e minha boca grande. Tinha tanto medo. Não acho que eu era uma criança medrosa, exatamente, eu era muito mais curiosa. Mas é que o medo atravessou todos esses anos. O medo de um comercial na tv, de uma imagem vista de relance na locadora, de um boato sobre um cara que sequestrava crianças. Tinha muita coisa, meus jogos, os passeios. E a vida era... E ainda é boa.
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