Eu sempre achei que meu namorado seria minha musa, de tanta coisa que ele significa achei que seria o tema principal de todos os meus textos e cartas de amor. E ele deve ter ciúmes se descobrir que a musa desse texto é a cidade dele.
Foi ela quem me disse no canto do passarinho, na carícia do vento e na voz de uma cantora de forró que eu talvez não conheça, e também com toda a força da tarde e do sol que se põe, que ainda é possível ser feliz e conhecer de novo o clima bonito de cidade pequena que me fez tão feliz na infância e que até hoje me sustenta.
Aí eu achei bonito e quis fazer uns registros. E ela me disse que não adiantaria mostrar um gif torto de um passarinho pra passar o que se importa, porque precisa de mais. E que também não bastava um vídeo bem claro com uma resolução massa e o som de tudo isso. Porque era preciso mais.
E eu disse: mas nem se eu botar ele aqui pra ver essa vista e sentir na pele esse vento, e ouvir com os próprios ouvidos o canto do passarinho, os carros passando, a mulher cantando, o cimento sendo mexido?
Nem se ele sentir na boca o gosto da minha saliva e do meu lábio seco e nem se sentir nas costas a coluna torta? Nem se ele sentir esse cheiro que é tão familiar que já mal se sente a não ser que se esfregue o nariz nessa roupa lavada cheia de água, cheirosa a sabão?
E ela me disse: nem assim.
Porque nem todos os seis sentidos dele bastam se ele não tiver o sentido da tua mente. Que foi formado de toda a vida até agora, e que só faz sentido pra tu. E pra mim que tô te mostrando. Tudo convergiu pra eu te mostrar esse momento particular, nosso.
O passarinho foi embora, o sol terminou de se esconder atrás das nuvens e eu fiquei pensando: é mermo, é? Pois taí que eu não sabia.
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