O vento que corre fora da janela e atinge meu rosto por entre as grades é tão frio quanto o do ventilador aqui dentro.
Contemplo a paisagem e meus pensamentos, por mais que se deparem com os mesmos temas confusos de antes, não me despertam sentimentos ansiosos. Tenho cautela pra não pegar pesado demais.
Passam pela minha mente, vagamente puxados por uma e outra recordação. As luzes lá no fundo parecem estrelas. Ou cruzes brilhantes de túmulos. Ou luzes de naves espaciais ou uma cidade bonita num jogo.
Tem algumas coisas que quero pensar, percebo que não vou concluir nada agora. Quantas vezes já fiquei nesse mesmo estado de contemplação em outras janelas que agora mal me vem na memória?
Mas tem uma coisa que não quero esquecer. É essa ideia. A de que me faz bem estar em vários lugares. Pode ser desconfortável não estar acostumada e ter que se adaptar. Mas essa diversidade e as possibilidades são a riqueza que quero. Não posso esquecer de que quero estar assim. Quero ter espaço, lugares pra ir, coisas pra ver, noites pra curtir e principalmente pessoas interessantes e confiáveis ao meu lado.
Outras coisas surgem. Porque escutar mais a certeza de alguém do que a minha? Lembro dela e ela é meu contraponto. Lembro dela que não tem culpa e talvez não tenha sentido quase nada, mal imaginando o que representa pra mim. Um pivô que involuntariamente acendeu temas tão quentes na minha vida. E eu vivo me esgueirando da chama. Mas eu precisava. E tenho medo. Devia agradecer a ela depois, só que sem que ela perceba. Ela provavelmente nunca vai saber o que significa pra mim.
Eu queria me segurar em algo. Queria ter uma certeza sequer que fosse plena e imutável, e que fosse boa e um acalanto. Mas o que eu tenho são dúvidas e certezas ruins. Não tem idade nem confiança nem preparo que me deixe pronta pra tudo. E eu não tô pronta pra um monte de coisa também. E pra algumas nunca estarei.
A cidade dorme e eu tenho insônia. Quero voltar a ler mas a minha narrativa me parece a mais interessante. Olhei as estrelas mais cedo e não consegui identificar constelação nenhuma. De onde vem as estrelas cadentes? Eu sabia que não precisava de uma pra saber meu pedido. Eu quero ser feliz com o que eu fizer do futuro. Provavelmente eu vou ser e isso deveria ser bom. Mas me incomodo que não vou ser feliz do jeito que eu tô agora. Com essa casa e essa vida que é uma visita/vista e não uma vida. E deus me livre que fosse essa a minha vida o tempo todo. Porque eu ia saturar até das coisas boas quem sabe?
É engraçado como as fases passam e eu me adapto aos cenários e descubro como estar bem neles. Nem sempre rápido como gostaria. Mas agora estou mais tranquila do que estive no último ano.
Ainda cheia de contradições. As escolhas parecem todas erradas. Parece tudo inseguro demais. Tudo parece que descamba no mesmo balde que é o fracasso. E no meio disso tudo um pensamento louco de me entregar ao fluxo da vida mais caricata que eu consigo pensar pra me agarrar a uma segurança que nem existe.
Aqui olhando pra minha musa quieta, monótona, segura pra mim. O cheiro dela está todo mudado. Eu olho pra ela e não sinto nada especial, mas é justamente o não sentir que eu buscava. Ele subentende segurança, tranquilidade, aceitação. Ela me isola do resto do mundo, essa musa.
Se aquelas folhas balançarem um pouco mais devagar eu não vou conseguir ver. E vai parecer que eu parei no tempo.
As coisas aqui as vezes me lembram a cidade de quando eu tinha seis anos de idade. Que ironia porque elas tem o mesmo nome. Hoje, por um breve momento, me lembrou de um jeito ruim. Mas eu não tenho mais seis anos. Infelizmente tanto pras coisas boas quanto pras ruins a gente constrói significados desde pequena. Eu tento destruir os sentidos ruins às vezes. Dissecar e entender. Mas aí os bons ficam parecendo frágeis também. Sentidos... Nem sempre dá pra controlar como as coisas chegam. Nem sempre dá pra controlar como se reage a elas. Eu agradeço a calma. Agradeço sempre que noto.
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