Eu olho pra ela e ela me sussurra "vai ficar tudo bem". Eu precisava escutar. Sempre que olho pra ela, ela repete. Tenta me dizer, me chama pra perto. Diz pra eu me apressar, pra tirar uma tarde ensolarada e caminhar antes que volte a chover.
"Never mind I'll find someone like you, I wish nothing but the best for you too." A Adele canta de fundo. Não significa nada.
Eu e todo o resto do dia estendido a minha frente. Coisas que quero fazer e sei que vou. Outras que não sei. Angústias recorrentes passam pelo meu estômago, suaves aparecimentos e desaparecimentos.
Tenho medo desse estado, apesar de não ser nada intenso agora, quando estou suscetível a essa variação emocional. Horas tudo parece meio difícil e meio... Inaceitável. Inlidável. Outras horas parece tudo leve, normal, tranquilo, cheio de esperança. Os pássaros cantam desde que horas, se só agora parei pra ouvir? Só agora parei pra sentir esse cheirinho leve que não sei de onde vem, deve ser da minha cabeça. Tudo tranquilo e eu aqui maquinando, fervilhando em cozimento lento. Decidindo o que fazer em seguida. Parece que a inquietude está por aqui de novo, um sentimento de que algo bem no fundo está... Errado. A leveza tenta voltar.
Eu olho pra trás tentando confiar nela, tentando ver pela perspectiva que ela quer que eu veja, que tudo está bem, afinal. E vai continuar de toda forma.
Hoje acordei mais cedo e mesmo assim conto as horas pro sol ir embora, porque não quero que ele vá. Assim como conto os dias pra minha partida. Também não quero ir. Às vezes até quero. Quero o equilíbrio e a satisfação de todos os lados.
Gosto de ter coisas pra fazer, coisas marcadas. Gosto de ter coisas pra fazer, coisas inventadas, coisas que posso, mas não vou agora. Algumas que dão trabalho e servem pra me organizar. Outras que dão trabalho e me dão prazer. Alimentam minha fantasia que é o que me faz conseguir lidar com o mundo. O jeito peculiar de ver ele como uma fantasia até conseguir ver como uma sucessão de fatos comuns. Fantasiar pra não cair em desespero (com uma visão distorcida). Porque continuo me entregando tanto a cada momento como se tudo fosse tão absoluto? E porque em outros tantos momentos eu simplesmente me alheio, subindo nas costas da ansiedade, deixando ela me guiar sobrevoando futuros imaginados de toda forma, por interpretações incompletas e por angústias; quando meu corpo fica aqui no presente, inerte, abandonado em seu propósito único que é agir no agora? Como posso me alhear tão facilmente de mim?
As versões das minhas atitudes, do que eu serei no futuro e do que eu sentirei, são imaginações, são irreais. Não são eu. E já me provei, por bem ou por mal, que não consigo me imaginar tão bem assim no futuro. Em geral eu sou mais otimista na minha mente do que funciono na realidade. Apesar disso, eu também sei me surpreender. Achando a tranquilidade em momentos que imaginava que seriam um suplício, e virando outra versão de mim.
Sou uma e sou muitas, elas não se lembram tão bem uma da outra. Eu enxergo o passado de um jeito estranho, esqueço fácil, tenho dificuldade de acreditar no que estava sentindo quando não estou mais. Na verdade, não de acreditar mas de entender. Uma grande subestimadora de sentimentos, é isso. Exceto dos que me traumatizaram o suficiente pra ficar bem longe deles.
Penso numa imagem engraçada. Antes de tomar uma decisão, colocar um aviso num quadro interno. "Estou pensando em fazer isso". E cada uma que passar por lá pode dar sua opinião. Será que ao menos uma de mim é capaz de querer e lutar por isso? As outras não querem tanto. Consideram importante, mas não vão assumir a tarefa. Talvez precisemos criar uma nova. Elas surgem meio naturalmente, na verdade. Tentar criar sem paciência geralmente me frustra, é uma ilusão, ela some depois de um tempo.
Conhecer uma nova eu é mais ou menos difícil do que conhecer um novo outro?
P.S. sobre a ideia de que estamos todos perdidos na juventude. Talvez tudo faça mais sentido na vida adulta porque simplesmente viveram o suficiente pra narrar as coisas como sendo uma sucessão de acontecimentos que aparentemente eram o que deveria ser. Pura sorte no infinito de possibilidades. Isso não quer dizer que estejamos fazendo algo errado agora.
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